08
abr
14

Sobre o dia do jornalista

Por inocência ou por arrogância, entrei na faculdade de jornalismo em 2006 achando de que, de alguma maneira, iria ajudar a mudar o mundo com a minha profissão. Com 4 anos de formado já me desiludi dessa ideia.

 

Não sei, me parece que é muito difícil você produzir algo para as pessoas refletirem, pelo simples motivo de que elas não querem refletir. Elas têm seus conceitos e preconceitos formados e não estão afim de pensar nisso, de ver outros pontos de vista, de se abrir para ver o mundo de outra maneira.

 

Minha relação com a profissão, que é de amor e ódio desde sempre, vem se transformando em apatia, uma espécie de “Ah, vou fazer o meu, ganhar meu salário e foda-se o mundo”. O problema é que tem muitos profissionais assim, muitos outros que escolheram e seguem a carreira por ego e outros tantos que se contentam em apenas contar o que acontece, sem ir procurar causas e consequências para os fatos, babando chavões e lugares comuns.

 

Somos uma categoria conformada. Conformada com o baixo salário, com a falta de emprego, com as pautas esdrúxulas que temos que fechar porque o dono da empresa jornalística mandou. Somos conformados em seguir a agenda-setting, em narrar superficialmente o que aconteceu e em ficar contente em ver nosso nome assinando uma matéria.

 

E me assusta ainda mais ver quem são os jornalistas que fazem sucesso hoje. Uma reacionária que baba preconceitos em comentários em rede nacional, outra que ganhou fama por ridicularizar presos e umas dezenas de “Zés Gracinhas” que fizeram do jornalismo um entretenimento barato.

 

Mas de tudo que envolve o jornalismo, lembro de uma frase que ouvi numa palestra (pela TV) do Luis Fernando Veríssimo. Ao ser perguntado por que hoje tem menos jornalista de esquerda do que antigamente, ele disse que no passado, ao trabalhar na máquina de escrever, numa redação barulhenta, o jornalista se sentia como um operário em uma fábrica, o que fazia com que ele se simpatizasse mais com causas trabalhistas do que patronais. Agora, com as redações silenciosas, com ar condicionado, o jornalista se acha uma espécie de cientista, ficando longe das causas do povo.

 

Espero que você, jornalista, tenho aproveitado o seu dia para refletir sobre sua profissão, que não tá fácil.


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Marcos André Andrade

Jornalista formado, ou deformado. Escritor frustrado. Boêmio. Amante de MPB e futebol. Adora fazer piadas ridículas. Sofro com uma Variação Constante de Humor.

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